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Ret, Nocivo Shomon e a Estratégia a um passo do Mainstream

Em 2012, o rapper carioca Ret lançou seu álbum "Vivaz", um marco em sua carreira e uma peça central no cenário do rap nacional. O álbum, que carrega um lirismo afiado e reflexivo, é também um exemplo estratégico de como artistas, imersos em um gênero tão competitivo quanto o rap, utilizam colaborações para solidificar sua posição dentro da cena. Nesse contexto, a participação do rapper Nocivo Shomon em "Vivaz" é digna de uma análise mais aprofundada, especialmente se considerarmos as dinâmicas de aceitação e legitimidade dentro do movimento.


O rap, historicamente, sempre foi mais do que apenas música; é uma expressão de identidade, pertencimento e resistência. Dentro desse universo, colaborações não são apenas artísticas, mas carregam um peso simbólico que pode influenciar a percepção de um artista dentro da cena. Em 2012, Nocivo Shomon era uma figura polarizadora. Com um estilo agressivo e letras contundentes, ele representava a "rua" em sua forma mais crua, em contraste com artistas que estavam alcançando maior visibilidade, como Emicida. A disputa entre Nocivo Shomon e Emicida refletia uma tensão latente no rap brasileiro: a batalha entre o "underground" e o "mainstream", entre o que é considerado original e o que é visto como comercial.


Ao convidar Nocivo Shomon para participar de "Vivaz", Ret estava fazendo mais do que apenas um movimento artístico; ele estava estrategicamente posicionando-se dentro dessa narrativa maior. A colaboração pode ser vista como um gesto de aliança com a parte da cena que se identificava com a crueza e a autenticidade que Nocivo Shomon representava. Em um momento em que a autenticidade no rap era - e ainda é - medida pela proximidade com a realidade das ruas, a presença de um crítico tão ácido como Nocivo Shomon no álbum de Ret era uma afirmação de que ele também compartilhava dessas raízes e dessa visão de mundo, ao mesmo tempo em que ensaiava passos que poderiam levá-lo ao mainstream.


Essa escolha estratégica de Ret visava, sem dúvida, assegurar sua aceitação entre os críticos mais duros da cena. Ao trazer para o seu projeto um artista que estava em uma disputa direta com uma das maiores figuras do rap brasileiro na época, Ret estava, de certa forma, validando sua própria postura como alguém que não apenas entendia, mas também respeitava as complexidades e as divisões internas do rap. Essa manobra também pode ser vista como uma tentativa de mostrar que sua música era construída a partir de uma perspectiva genuína, conectada com as realidades das ruas, sem perder a profundidade lírica que o caracterizava.


Além disso, essa colaboração pode ser interpretada como uma jogada para atrair um público mais amplo, que poderia ver em Ret uma ponte entre o rap mais lírico e reflexivo, e o rap mais direto e agressivo, representado por Nocivo. Ao unir esses dois mundos, Ret estava, em última análise, fortalecendo sua posição no cenário do rap, não apenas como um excelente letrista, mas como um artista que compreendia e navegava habilmente as nuances do jogo.


Assim, a inclusão de Nocivo em "Vivaz" não foi apenas uma escolha colaborativa, mas uma declaração de pertencimento. Ret, ao fazer essa aliança, mostrava que entendia a importância da aceitação na cena do rap, e que estava disposto a fazer as movimentações necessárias para garantir que sua voz fosse ouvida e respeitada.

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